Micro casas: conheça o movimento que propõe casas de até 40m²

O movimento das micro casas é consequência de um estilo de vida minimalista. As micro casas, ou também, as chamadas tiny houses são casas extremamente pequenas, com aproximadamente 40m² no máximo e que têm a proposta de serem casas completas e funcionais ocupando pouco espaço. É importante frisar que, apesar de priorizarem o mínimo no modo de viver, a experiência de morar nesses pequenos espaços buscam aliar o minimalismo sem abrir mão da comodidade, bem-estar e beleza estética.

Aproveite a leitura! 

Movimento minimalista para a moradia 

Minimalismo é um conceito que consiste na busca por uma vida sem excessos e extravagâncias, como o nome já diz: preza pelo mínimo. 

Popularizado através do slogan  “menos é mais”- frase famosa do arquiteto alemão Ludwig Mies Van der Rohe- o minimalismo exprime um estilo de vida que tem como uma das vertentes mais fortes a diminuição do consumo a fim de alcançar um modo de viver mais equilibrado frente ao contexto de mundo contemporâneo que preza pelo consumo desenfreado. 

Por conseguinte, o consumismo também atingiu o modo de morar das pessoas, com enormes casas e um excesso de tudo: ambientes, móveis, roupas, calçados e outros objetos pessoais, resultando até em hábitos de acumuladores para alguns. A busca pelo mínimo caminha em direção contrária a esses hábitos, incentiva o consumo consciente, ou seja, comprar e viver somente com aquilo que realmente é necessário para uma vida agradável. 

micro casas
Capa documentário “ The minimalist- Less is Now”- Netflix. Fonte: Netflix

Essa ideologia repensou diversas práticas modernas, como a maneira de se vestir, consumir e também de morar. Como consequência da transformação desse estilo de vida, prezando pelo mínimo e pela conexão com a natureza, criou- se o movimento das micro casas, que coloca em prática diversos preceitos que o movimento minimalista preconiza, visto que em uma micro casa, obrigatoriamente só permanece o que é mais importante, por questões de espaço. Dessa forma, a experiência de morar em residências tão compactas é uma espécie de externalização de um modo de viver minimalista. 

Contudo, engana-se quem acredita que habitar em micro casas significa morar sem conforto. 

Nas tiny houses a funcionalidade é imprescindível para que seja aproveitado todo e qualquer metro quadrado da residência. A ideia é construir casas que não tenham espaços ociosos ou sem função, por isso, essas pequenas residências são sempre muito bem planejadas, pois o intuito é fornecer todas as condições para a moradia permanente. Embora algumas pessoas optem por viver essa experiência temporariamente, as micro casas são construídas e planejadas com uma estrutura e durabilidade suficiente para serem um lar definitivo. 

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Casa Portátil APH80/ Ábaton Arquitectura. Fonte: Archdaily 
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Casa Portátil APH80/ Ábaton Arquitectura. Fonte: Archdaily 

A filosofia por trás do movimento das micro casas 

Ideologicamente, o movimento das micro casas faz referência a alguns princípios que o autor estadunidense Henry David Thoreau externaliza em seu livro autobiográfico Walden ou a Vida nos Bosques (1854), em que é apresentada uma “reflexão sobre a vida simples e cercada pela natureza”. 

O livro apresenta uma experiência social e de autodescoberta do autor, crítico ao intenso crescimento urbano e industrial nos Estados Unidos. Na época, Henry, como num ato de posicionamento contrário a isso, decide ir para a floresta e construir com as próprias mãos a sua casa, buscando viver com o mínimo e com um contato direto com a natureza. Através dessa jornada, Henry propõe-se a reinventar a si mesmo e o modo de viver, pensar e consumir do século XIX. 

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A trajetória de Henry inspira princípios que valorizam o mínimo e o sustentável através da filosofia de que com menos área física outras coisas mais importantes criam espaço na vida das pessoas. Desse modo, as micro casas representam mais que um modo de morar e sim um modo de viver, por meio de uma vida simples, mais conectada com a natureza e até nômade, já que a estrutura e o método construtivo das micro casas permite a locomoção dessas residências. 

As micro casas são pensadas para que se viva mais o externo que o interno. Essas moradias geralmente são alocadas em lugares mais afastados do caos urbano e prezam pela sustentabilidade e harmonia da relação ser-humano e natureza. Construídas com sistemas econômicos que emitem uma baixa pegada de carbono, elas utilizam tecnologias e técnicas como: energia solar; algumas possuem banheiros com compostagem e também materiais construtivos que não geram tantos resíduos de construção civil como uma casa comum, a exemplo de casas construídas com madeira, container ou até sob rodas. 

A proposta de forçar o olhar para o ambiente externo também faz parte do que a filosofia das tiny houses sugere, pois valoriza a preservação do meio ambiente e estimula uma vida fora de casa mais constante, por meio de atividades ao ar livre com a família ou sozinho, para quem busca uma jornada individual de autoconhecimento. 

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Fonte: Archdaily. Fotografia Roderick Aichinger 

A ideia das micro casas como um lugar temporário de refúgio também é bem disseminada entre jovens e adultos. Ideal para aqueles que querem fugir do cenário da cidade de tempos em tempos. Além disso, a prática representa uma solução para muitas pessoas que enfrentam ou já enfrentaram alguma crise de burnout (esgotamento mental consequente de uma jornada de trabalho exaustiva e que acarreta distúrbios psíquicos ao indivíduo).

Segundo uma construtora estadunidense que atua no segmento de micro casas, a demanda desse tipo de residências subiu durante a pandemia, reflexo do esgotamento da rotina urbana e a busca por uma conexão com a natureza

Morar em uma micro casa consiste não apenas de uma mudança de residência, mas de uma mudança do estilo de vida. Para a adaptação nesse tipo de moradia, são necessárias diversas renúncias, e nem todos conseguem alcançar esse nível de desapego material. 

O movimento das micro casas no mundo e no Brasil 

O mercado imobiliário das micro casas demonstra um constante crescimento nos Estados Unidos, inclusive existem empresas especializadas em diversos segmentos de micro casas, para todos os gostos, orçamentos e filosofias de vida. 

Outro ponto que tem corroborado para o crescimento da adoção do estilo de vida que as micro casas proporcionam é o fato de que elas estão livres de hipotecas, já que são projetadas para mobilidade, então é bem comum que alguns proprietários optem por alugar temporariamente locais de camping ou mesmo por ocuparem por um tempo o jardim de um familiar, porém, para a posse permanente do terreno devem ser observadas as permissões de planejamento urbano do local.

Em alguns lugares do mundo, como no Reino Unido, o processo de adquirir permanentemente uma propriedade, mesmo que para micro casas, pode ser um pouco mais burocrático. 

Por outro lado, além de toda a questão filosófica que envolve a adoção do estilo de vida proporcionado pelas micro casas, outro fator responsável pelo seu crescimento, foi a questão econômica, surgindo como uma saída para o problema da escassez de moradias provocado pela crise econômica de 2008 (momento em que aumentaram os fabricantes das tiny houses nos Estados Unidos).

Num contexto de insegurança de moradia, hipotecas elevadas e a alta no valor do metro quadrado por terreno, essas pequenas residências passaram a ser uma opção para aqueles que queriam evitar elevadas dívidas para adquirir a casa própria. Justamente pela possibilidade de não arcar com o m² do terreno construído, apenas alugando-o e também pelo custo da construção e aparelhamento dessas casas, uma vez que existem diversos fornecedores nos EUA, possibilitando até a compra de micro casas completamente prontas para a entrega. 

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Conjunto de micro casas em Washington, EUA. Fonte: bbc

No Brasil, o movimento das micro residências começou a ser notado muito recentemente. Um dos primeiros registros de Tiny Houses no país foi há cerca de 6 anos atrás, quando um casal de brasileiros, chamados Isabel e Robson, foram os pioneiros e se tornaram os embaixadores do movimento Tiny House sobre rodas no Brasil e responsáveis pelo movimento “pés descalços”. 

O casal, após uma síndrome de Burnout, decidiu mudar o estilo de vida. Conheceram um pouco mais sobre o minimalismo e foram apresentados ao movimento das tiny houses. Foi então que decidiram ter sua própria residência micro, mas com a falta de mão de obra especializada e fornecedores, realizaram uma imersão sobre o movimento nos EUA e após o retorno ao Brasil, em 2018 construíram uma micro casa de 35m². 

micro casas
Fonte: pés descalços
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Fonte: pés descalços
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Fonte: pés descalços

Atualmente esse movimento já ganhou mais visibilidade no país e existem empresas especializadas na construção das micro casas, como a Tiny House Brasil e a Tiny Brasil, ambas seguindo a mesma proposta de projetar e construir micro casas personalizadas de acordo com cada cliente, acompanhando desde a concepção até a entrega, seguindo a mesma identidade visual e os princípios do movimento das micro casas, de origem estadunidense. 

Modelo de micro casa construída pela empresa brasileira Tiny Brasil, com capacidade de abrigar até 3 pessoas: 

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Fonte: Tiny Brasil 

Modelo mobiliado de micro casas para 3 pessoas da Tiny Brasil 

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Fonte: Tiny Brasil 
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Fonte: Tiny Brasil 

A casa cubo também entrega uma proposta de micro casa, construída a partir de pequenos módulos de 2,8 x 2,8m, com 6m² de área livre interna, podendo ser adaptada para uso comercial ou residencial. 

micro casas
Fonte: casacubo
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Fonte: casacubo

Tipos de micro casas 

Offline: completa imersão na natureza 

A micro casa projetada pelo escritório UNarquitectura, localizada no Chile, cuja implantação e projeto foram completamente adaptados à natureza segue um conceito que propõe uma mimetização da casa com o contexto em que está inserida. 

micro casas
Fonte: Archdaily. fotografia: Natalia Vali 
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Fonte: Archdaily. fotografia: Natalia Vali 

Já as Micro Cabanas, projetadas pelo escritório University of Colorado Denver e localizada nos EUA, consistem num complexo de cabanas, situadas em uma colina, em um bosque de pinheiros.

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Fonte: Archdaily. Fotografia Jesse Kuroiwa

Urbanas 

Embora comumente as micro casas sejam implantadas em locais mais afastados e próximos à natureza, também existem algumas inseridas dentro do contexto urbano, mas que seguem a proposta de dimensões mínimas residenciais. 

É o exemplo do projeto a seguir, uma micro casa construída na Alemanha que, mesmo edificada numa rua movimentada, consegue propor elementos de isolamento ao seu redor, que garantem privacidade à residência.

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Micro casa pátio. Atelier Kaiser Shen. Fotografia Nicolai Rapp. Fonte: Archdaily
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Micro casa pátio. Atelier Kaiser Shen. Fotografia Nicolai Rapp. Fonte: Archdaily
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Micro casa pátio. Atelier Kaiser Shen. Fotografia Nicolai Rapp. Fonte: Archdaily

Contemporâneas

Algumas micro casas, apesar de adotarem a compacidade de espaço, incorporam elementos contemporâneos ao estilo, como uso de vidro nas fachadas, além de formas arquitetônicas diferentes do modelo tradicional. 

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Fonte: Archdaily. Fotógrafo Paul Kiumet

Projeto de uma Tiny House proposta pelo estúdio de arquitetura Bjark Ingels Group (BIG) que tem como conceito uma micro casa sustentável no estilo escandinavo.

micro casas
Fonte: remodelista. Fotografia Matthew Carbone
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Fonte: remodelista. Fotografia Matthew Carbone 

Park Model 

As Park Models são micro casas com dimensões consideravelmente maiores que as tradicionais e seu uso é de longo prazo ou permanente. Essas residências são conectadas a um reboque ou sob caminhões e são instaladas em terrenos que carretas grandes tenham acesso. Por ocuparem mais espaço, é necessária autorização do Departamento Nacional de trânsito e da prefeitura para transitar e estacionar, respectivamente. 

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Fonte: Park Model Homes 
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Fonte: Park Model Homes 

Aplicada aos projetos sociais 

Com a questão da insegurança habitacional, as micro casas surgiram como solução de moradia temporária para os sem-teto em alguns países. É o caso do projeto na Escócia que construiu uma vila composta só de micro casas para pessoas em situação de rua. 

O local é capaz de abrigar até 20 pessoas e a proposta é que os moradores permaneçam na vila por 12 meses, tempo que recebem capacitação para se inserir no mercado de trabalho. 

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Arquiteto Jonathan Avery, responsável pelo projeto. Fonte: Tinyhousescotland
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A vila Social Bite Villag. Fonte: Social bite.co-uk

Considerações ao optar por morar em uma micro casa 

É fato que as micro casas e o estilo de vida consequente de se morar em uma dessas residências, não é para todo mundo. Se você pretende construir e se mudar para uma micro casa, antes, confira alguns fatores de extrema importância que devem ser considerados antes de realizar a escolha:  

Adaptação ao modo de morar 

Como mencionado, esse tipo de movimento faz parte da ideologia fundamentalista do minimalismo, que deve ser aplicado em várias esferas da vida pessoal das pessoas ao serem  exteriorizadas para o modo de morar. Isso significa que, se a pessoa ainda não passou por uma transição de consumista para alguém que consome o mínimo, certamente morar em uma tiny house irá gerar angústia e sofrimento por não ter local de armazenamento disponível para seus inúmeros pertences. 

Por isso, é importante que antes de realizar a mudança, os futuros proprietários de uma micro casa já sejam adeptos ao modo de vida minimalista ou que, se ainda em transição, estejam cientes que irão ter de desapegar de muitos bens pessoais e que estejam abertos à mudança de rotina e dinâmica de vida decorrente de residir em uma casa de até 40m². 

Planejamento financeiro 

Outro ponto importante a ser considerado é a necessidade de um planejamento financeiro.  Embora o custo seja, em regra, menor que construir uma casa convencional, as micro casas exigem projeto prévio e uma mão de obra especializada na realização desse serviço, para que a casa atenda a todas as funcionalidades que um indivíduo ou uma família precisa. Ademias, no Brasil, a construção desse tipo de residência pode ficar mais onerosa que a média da construção de uma Tiny House nos Estados Unidos, pois existem menos fornecedores nacionais. 

Acessibilidade 

A maioria das micro casas possuem mezaninos e pouco espaço de circulação, então a falta de acessibilidade pode ser um fator impeditivo para pessoas que têm restrições de mobilidade.

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Fonte: Archdaily. Fotografia: Thebearwalk.com

Planejamento familiar 

Todo ambiente e todo mínimo espaço numa micro casa têm suas funções, pois cada m² é crucial. Sendo assim, é importante que a família tenha um planejamento familiar já definido antes de adquirir uma Tiny House, pois, diferente de residências convencionais, em regra, as micro residências não são flexíveis para mudanças drásticas ou expansões, por isso tenha em mente que a quantidade de moradores é um fator essencial. 

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Fonte: bbcbrasil

E aí, você teria coragem de morar em um micro casa?

 

Até a próxima, 

Equipe Vobi. 

Referências: 

www.bbc.com

ww.pt.wikipedia.org

www.tinyhousebrazil.com

www.tinybrasil.com.br

www.pesdescalcos.com.br

www.casacor.abril.com.br

www.admirato.com.br

www.tinyhousecommunitybristol.org

www.social-bite.co.uk

www.americantinyhouse.com

www.tinyhousescotland.co.uk

www.casacubo.com

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