Síndrome do edifício doente

Síndrome do edifício doente: saiba como esta patologia pode prejudicar sua saúde

Você já sentiu sintomas de doenças respiratórias ou alergias ao ficar por tempo prolongado em ambientes fechados? Sintomas como coriza, olhos lacrimejantes, tosse, letargia, dificuldade de concentração e até mesmo febre?  Se sua resposta foi sim, Cuidado! Você pode estar frequentando um edifício doente! 

A síndrome do edifício doente ou abreviadamente conhecida pela sigla SED, foi reconhecida pela OMS em 1982, quando um hotel na Filadélfia registrou a morte de 32 pessoas, e contágio de mais de 180, devido a contaminação pela bactéria Legionella pneumophila, que provoca sintomas parecidos com a de uma forte gripe.  A Organização Mundial da Saúde entendeu que a disseminação estava diretamente ligada à qualidade do ar interna do edifício.

O conceito da síndrome do edifício doente tomou maior proporção a partir dos anos 70, devido à crise energética mundial. Os novos edifícios passaram a ficar cada vez mais fechados e com aberturas ainda menores, como consequência disso, o ar refrigerado se mantinha por mais tempo dentro dos ambientes. A redução da captação do ar do lado de fora dos edifícios ocasionou a deficiência na taxa de renovação de ar, provocando a concentração de poluentes e agentes nocivos à saúde humana. 

Neste artigo, vamos nos aprofundar em alguns questionamentos recorrentes acerca dessa Patologia na construção civil, como: 

Aproveite a leitura!

O que é a Síndrome do Edifício Doente? 

A SED, segundo a OMS, pode acometer até metade dos edifícios de trabalho no Brasil. Essa patologia na construção civil, recentemente descoberta, é capaz de acarretar sérios problemas de saúde envolvendo principalmente as vias respiratórias do indivíduo. Ocorre principalmente em edifícios que são utilizados como ambiente de trabalho, e que são alimentados, principalmente, por meios de ventilação artificiais, sendo mais comum em escritórios, hospitais, clínicas, escolas, hotéis, restaurantes e afins.

Tais ambientes são comumente alimentados por uma central de ar-condicionado, enquanto as portas e janelas permanecem frequentemente fechadas, fazendo com que a ventilação natural não exista internamente, provocando, desta forma, problemas de saúde - principalmente relacionados ao trato respiratório -,   aos seus ocupantes, que permanecem no ambiente por longas horas.

No entanto, para caracterizar a síndrome do edifício doente, é necessário que pelo menos 20% dos ocupantes da edificação apresentem sintomas clássicos desse mal, por pelo menos duas semanas consecutivas. Os sintomas normalmente variam entre: irritação nas mucosas, tosse, náusea, dor de cabeça, coriza, dor de garganta, que podem evoluir para infecções respiratórias e em alguns casos, enfisema pulmonar. Para pessoas que já sofrem com doenças respiratórias, essa patologia pode agravar e muito o quadro. 

Fato é que os principais agentes de poluição dos edifícios são advindos do lado de fora, esses agentes podem ser classificados como físicos, químicos e biológicos. 

É sabido que zonas industriais ou com intensa circulação de veículos produzem mais poluentes nocivos à saúde. No entanto, o fator biológico do ambiente que acontece através da proliferação de bioaerossóis (partículas de origem biológica que permanecem suspensas no ar dos ambientes), como fungos, bactérias, bolor, ácaros e mofos contribuem majoritariamente para prejudicar a saúde dos que ocupam o local.

síndrome do edifício doente

Como evitar a síndrome do edifício doente?

Para evitar que a Síndrome do edifício doente venha ser um problema nos ambientes que você frequenta, algumas medidas podem ser tomadas. Você, enquanto profissional da construção civil, pode adotar algumas técnicas desde a fase projetual do edifício. Vejamos algumas:

  1. Dimensionar adequadamente as aberturas de janelas, levando em consideração também a incidência solar e influência dos ventos, para que haja boa troca de fluxo de ventilação e iluminação com o ambiente externo além de evitar a umidade dentro do edifício;
  2. Em ambientes de constante circulação de pessoas, é recomendável que se evite o uso de tapetes, carpetes e tecidos que possam acumular ácaros e bactérias no geral. Optar por superfícies lisas e de fácil limpeza, é fundamental. Ainda sim, é importante se atentar à origem do problema, uma vez que ambientes úmidos favorecem a proliferação dos bioaerossóis. Segundo a OMS, ambientes com umidade entre 50% e 60% são o ideal para o bem-estar humano e para preservação de móveis e objetos, mais do que isso, pode contribuir para a colonização de fungos e mofos em superfícies como paredes, forros e móveis em madeira. 
  3. A constante manutenção do prédio também é fundamental para evitar a síndrome do edifício doente. Sendo assim, é importante inspecionar periodicamente as instalações a fim de detectar problemas de infiltração e vazamentos hidráulicos, além de se atentar aos materiais usados no acabamento, como objetos porosos e isolamentos que podem ser focos de concentração e disseminação de poluentes.
  4. Outro fator primordial é a constante manutenção das centrais de ar-condicionado, que é apontado como o grande vilão da síndrome do edifício doente, especialmente em ambientes que dependem 100% de ventilação mecânica. Isso acontece porque os filtros do ar-condicionado, acumulam poeira que são transportadas através dos ductos e são levadas até as áreas internas, e, quando associados a temperaturas baixas, e pouca umidade no ar levam a problemas respiratórios como alergias, irritação nos olhos e mucosas e pele.

De acordo com o Dr. Roberto Albuquerque, especialista em pneumologia pela UFRN, o ideal é manter a temperatura entre 22 e 24°, além de realizar a limpeza dos filtros mensalmente em ambientes corporativos ou com grande circulação de pessoas. É recomendado dar preferência à ventilação natural, pelo menos uma vez ao dia, de preferência no período da manhã, já que essa prática diminui cerca de 20 vezes a chance de contaminação no recinto. Tais medidas devem ser associadas a limpeza das janelas e cortinas, sempre que necessário, pois estas recebem fluxo de ar, e consigo poeiras e diversos tipos de poluentes. 

síndrome do edifício doente
Fonte: https://pin.it/7JpPOBY

Considerando a preocupação com a qualidade do ar interna em ambientes climatizados, foi criado uma portaria pelo ministério da saúde (Portaria n° 3.523/98), a fim de minimizar o risco potencial de afetar a saúde de pessoas que passam por tempo de permanência prolongada em ambientes climatizados.  O ministério da Saúde entende que a qualidade do ar interna dos edifícios afeta diretamente a qualidade de vida de seus usuários, e quando ignoradas, acabam gerando desconforto, queda de produtividade e absenteísmo ao trabalho, em decorrência de problemas de saúde. A portaria em questão, estabelece práticas para limpeza e manutenção em sistemas de ventilação e refrigeração de grande porte. Nesse sentido, e em concordância com a Lei n° 13.589/2018, surge então o PMOC.  Mas o que é PMOC? 

O que é PMOC, e quando deve ser adotado?

A sigla PMOC se refere a “Plano de Manutenção, Operação e Controle”, e é um grande aliado no que diz respeito à prevenção da síndrome do edifício doente. Trata-se de uma obrigação legal estabelecida na Lei n° 13.589 de 2018, que dispõe de práticas que devem ser adotadas para verificar a integridade e o estado de limpeza e conservação dos sistemas de climatização de ar em ambientes internos. A norma obriga que o PMOC seja aplicado em todos os edifícios de uso público e coletivo, sendo exigido em todas as empresas com sistema de climatização de capacidade acima de 5 TR (60 mil BTU/H).

O PMOC nasce através de um trabalho minucioso de levantamento de dados, que deve conter informações como:

  • Carga térmica total instalada;
  • Número de pessoas que permanecem no ambiente;
  • Área dos ambientes que recebem ventilação mecânica, bem como a relação de todos os ambientes;
  • Descrição das atividades realizadas e qual a periodicidade delas;

A partir da coleta dessas informações é gerado um relatório que compara os dados obtidos com a referência indicada na norma. O relatório deve apresentar todas as informações pertinentes ao sistema de climatização como: quais adequações ou melhorias devem ser realizadas e qual a rotina de manutenção a ser seguida 

O plano de manutenção é realizado apenas por profissionais habilitados, nesse caso é necessário a expedição de uma anotação de responsabilidade técnica (ART), emitida junto ao CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), por um engenheiro mecânico. São atribuições desse profissional: implementar um plano de manutenção, definir a regularidade com que este deve ser realizado, realizar relatórios contendo o histórico de procedimentos realizados, bem como manter os ocupantes do local informados sobre as práticas adotadas para o PMOC.

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) juntamente com os órgãos de vigilância sanitária do estado e município são responsáveis pela fiscalização. O descumprimento da norma pode acarretar penalidades ao imóvel, que podem chegar até R$1,5 milhão acompanhado de sanções dependendo do caso.  

Os benefícios de adotar o PMOC vão muito além de prevenir ou minimizar os riscos à nossa saúde, pois a manutenção adequada reduz gastos com energia, já que a demanda de energia aumenta em aparelhos em que não é realizada a troca periódica dos filtros. Outra vantagem é a melhora do desempenho dos aparelhos de refrigeração devido a troca de peças realizadas no prazo certo, que por sua vez evita desgastes ou quebra que reduzem a vida útil do aparelho. Além disso, a manutenção preventiva evita gastos não programados com manutenções corretivas, que sempre geram custos mais elevados no final das contas. 

Vale ressaltar que existem empresas especializadas em climatização de ambientes que são capacitados para elaboração e execução do PMOC. Essas empresas normalmente contam com engenheiros e técnicos que realizam desde a elaboração do laudo até a prestação de assistência técnica e regulagem dos equipamentos. Dessa forma, é possível implementar o Plano de Manutenção, Operação e Controle no edifício sem dor de cabeça!

Quais os sintomas do prédio? 

A principal forma de identificar essa patologia na construção civil, é observando o conforto e saúde de seus ocupantes. Infelizmente, os sintomas da SED são rotineiramente confundidos com doenças respiratórias comuns, como resfriados, rinite ou sinusite. Apesar de não necessariamente atingir todos os ocupantes, é importante ficar atento quando 20 ou 30% das pessoas que frequentam o ambiente apresentam manifestações dessas enfermidades, pois isso pode indicar a presença da síndrome do edifício doente. Uma forma de testar a hipótese é assistir a melhora dos sintomas quando se está fora do edifício. 

Os sintomas podem se apresentar de diversas formas, variando de pessoa para pessoa, mas o trato respiratório, olhos e pele são geralmente os mais atingidos. Os sintomas respiratórios podem se apresentar como: secura nasal, alergia, coriza, piora da asma, constipação nasal, dor de garganta e dificuldade para respirar.

Anormalidades na pele como secura, vermelhidão e coceira devem receber atenção. Os olhos apresentam sintomas como sensibilidade, ardência, constante lacrimejamento ou secura. De forma geral podem surgir ocorrências como: dor de cabeça ou enxaqueca, náusea, letargia, sonolência, diminuição da capacidade de concentração acarretando estresse e irritabilidade. 

A apresentação desses sintomas requer a investigação do ambiente para o diagnóstico correto da SED. Para realizar a análise é necessária a avaliação da qualidade interna do ar (QAI), que é feito por laboratórios especializados que seguem as diretrizes da ANVISA. 

A análise é feita através de medições de parâmetros, químicos, físicos e biológicos. Vejamos os principais indicadores: 

  1. Químicos: Pela detecção de partículas de monóxido de carbono; dióxido de carbono; CO2 presentes em queimadores, cigarros, cachimbos e charutos; O3 normalmente encontrados em impressoras e copiadoras; compostos orgânicos voláteis presentes em materiais de limpeza, tintas, solventes, cola e ceras; compostos orgânicos semivoláteis comuns em pesticidas e queima de álcool ou gasolina, dentre outros;
  2. Biológicos: Agentes suspensos no ar (bioaerosol), fungos, bactérias, protozoários, vírus, excrementos de animais, que apresentam complicações ao sistema respiratório do indivíduo;
  3. Físicos: Fatores como ventilação, temperatura, umidade relativa, iluminação ou a falta dela, e níveis de ruídos do ambiente que influenciam diretamente no conforto dos usuários. 

Para evitar que a síndrome do edifício doente se instale, é necessário a observação e manutenção das instalações com regularidade. A iluminação e ventilação naturais devem se fazer presente sempre que possível nos ambientes internos, pois além dos aspectos sanitários, é possível verificar aumento da produtividade e criatividade dos colaboradores, além de ser uma medida amigável para a natureza. 

Através da adoção de medidas simples, é possível evitar a síndrome do edifício doente e proporcionar um ambiente limpo e seguro para seus colaboradores. Como resultado disso, vemos benefícios na saúde e qualidade de vida, além de prevenir prejuízos financeiros às empresas. 

Até a próxima,

Equipe Vobi.



Referências:

https://www.aerisrs.com.br/

https://airshield.com.br

https://www.bioseta.com.br/

https://www.scielo.br/

https://www.thermomatic.com.br/

https://prolifeengenharia.com.br/

https://bvsms.saude.gov.br/

https://www.produttivo.com.br/blog/

https://www.frigemar.com.br/

https://www.americanairfilter.com.br/

https://www.ecycle.com.br/

https://www.aecweb.com.br/

https://www.sienge.com.br/

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