Psicologia das Cores roxo
May 3, 2023

Psicologia das Cores: roxo, a cor da fé e subjetividade

Antes de cair a noite, o violeta é a última cor que antecede a escuridão total. Quando o Sol começa a aparecer no horizonte novamente, é o violeta que traz o calor do amanhecer. Violeta, púrpura, malva, lilás... todas são cores dentro do espectro do “roxo”. Os tons de roxo, portanto, variam a depender da quantidade de preto ou branco existentes a partir do violeta, a última cor visível no arco-íris. Eva Heller aponta que “o violeta marca a fronteira do visível com o invisível” o que interessa à Psicologia das Cores, pois o roxo é uma cor subjetiva, ora mais ou menos apreciada, mas sempre aplicada em situações que evocam inteligência e criatividade.

Neste artigo são apresentados três principais tópicos sobre o que é importante saber sobre o roxo na psicologia das cores na certeza de que a cor da criatividade inspirará os bons projetos! Você verá:

Aproveite a leitura!

O roxo e sua influência na história

Na virada do século XIX para o XX, na Europa a corrente artística do Art Nouveau (ou Jugendstil dependendo do país) elegeu o violeta como símbolo das transformações vigentes a partir da industrialização. As possibilidades de produção, a transformação de matérias-primas, como ferro, vidro, mas também a madeira, em objetos artificiais gerou enorme encantamento e, por sua vez, distanciamento do meio natural. Como estratégia de reaproximação, a ornamentação das edificações com motivos vegetais foi estilizada a ponto da identidade do movimento serem formas orgânicas.

Abaixo, o Salão em estilo Art Nouveau tem paredes revestidas em tons de roxo e madeira avermelhada. Pode-se vê-lo em 360º clicando neste link.

Le Salon du Bois, 1900. Fonte: Museu de Artes Decorativas, Paris.
“Nessa estética do artificial, a cor violeta ocupou um lugar de honra. Os salões violeta, com seus móveis forrados da mesma cor, foram considerados a culminância do culto à decoração de interiores.” Comenta Eva Heller, em seu livro Psicologia das Cores.

Roxo, em seu tom violeta, também era preferência dos artistas da corrente artística, como Gustav Klimt, famoso pela obra “O Beijo”. Suas personagens usavam roupas violeta combinadas com ouro e prata, dada a ideia de “extravagante artificialidade”. Por isso, nas pinturas da época quase não se veem cores primárias, em uma tentativa de ressignificar a arte por meio das escolhas das cores e dos materiais, o que na psicologia das cores, amarelo se aproxima do dourado, do brilho e o cinza, também brilhante, do prateado.

Nessa época o roxo começou a ser usado pelas Sufragistas, na primeira onda do feminismo iniciada na Europa. O tom violeta, por ser popular na virada do século, era comum de ser encontrado nas indumentárias de inverno, como as saias utilizadas pelas mulheres. Outra cor popular era a verde que, junto ao violeta e branco, foram usadas em largas faixas durante as manifestações destas mulheres por seus direitos. A cor roxa permaneceu como a mais utilizada pelo movimento (talvez porque na psicologia das cores, o verde também signifique fertilidade) em suas ondas subsequentes a exemplo do grupo Rebel Architettes, originado na Itália, e que reivindica direitos iguais dentro da profissão de Arquitetura e Urbanismo que escolheu como tom principal de sua logomarca o violeta vibrante.

Por sua vez, o lilás é um tom com mais adição de branco. Goethe dizia que a cor é “vivaz, mas sem alegria”, o que na psicologia das cores, roxo no tom lilás, mais claro, pode significar o sangue – vida – por baixo da pele. O lilás foi a primeira cor artificial comercializada, datando de 1856, o malva, tom delicado de roxo. A cor lilás ou violeta, principalmente, são cores do divino, da fé católica e da espiritualidade. Segundo Heller, o violeta tem em si a contradição: ao mesmo tempo tem significação eclesiástica, do poder e soberania, e apresenta efeito do violeta profano. Ela afirma, “pessoas chegam a dizer: o violeta é a cor de todos os pecados bonitos.”

A beleza se encontra na natureza e no próprio corpo humano. O cérebro é representado, nas concepções energéticas, com a cor violeta, pois nele se conectam os sentimentos e a inteligência, assim como o vermelho e o azul são as cores que compõem o violeta.

Qual o significado da cor roxa na psicologia das cores

Geralmente, as cores mistas, como roxo, são percebidas como ambíguas, subjetivas e também incertas. A cor lilás - na qual o vermelho, o azul e o branco se nivelam entre si - é a cor que contém maior ambivalência para a psicologia das cores. No roxo violeta a incerteza também não se dissolve nunca, quer ele tenda mais para o vermelho ou para o azul (na psicologia das cores, o azul escuro é a cor da dor, do luto), a impressão que a cor causa se altera com a luz. “A hora violeta” – era antigamente a descrição elegante para os entardeceres tardios, a hora do crepúsculo. Como cor ambivalente, o violeta também pertence ao espectro da mentira e da infidelidade quando flerta com o violeta, escuro e sensual.

Ainda segundo Eva Heller, há sempre relações sinestésicas quando se trata de cores. Isso é, sentimentos e sensações são percebidos por meio de diferentes cores e de seus arranjos. Sobre o roxo, vai comentar que, em seu livro Psicologia das Cores, o roxo enquanto violeta:

“Apesar de sua frieza, o violeta é uma cor sonora – e esse efeito se torna especialmente forte quando se combina com a alegria do laranja. Violeta-laranja: não existe nenhuma combinação de cores que fuja mais às convenções do que essa.”

Enquanto pigmentos, o violeta verdadeiro é obtido somente a partir da mistura de magenta, que é o vermelho puro, com um azul que também não contém nada de amarelo. Deve-se utilizar diretamente pigmento violeta, que garante a obtenção de um violeta luminoso, dentre eles o violeta de cobalto - claro e o violeta cobalto escuro. Usado com óleo ou em tinta de impressora, o violeta de cobalto é uma das cores mais caras, resultado de sua extravagância e toxicidade.

Violeta é a cor da vaidade. A vaidade é bela demais. Na concepção contemporânea é inofensiva para ser considerada um pecado, como outrora. Assim, há tensionamentos possíveis a serem feitos por meio da psicologia das cores e marketing. Um perfume de marca em um frasco de cor verde intensa e embalagem violeta chama-se Poison (“veneno”, em português), as cores indicam ser “perigosamente arrebatador”, em uma metonímia da possibilidade de carregar “veneno”. Nesse caso há evocação da subjetividade por meio da aplicação das cores em objetos de desejo. Da mesma forma que o violeta foi escolhido para a embalagem desse perfume, em cada projeto é importante compreender onde a cor roxa – em suas diferentes nuances – será melhor empregada, pois como visto na Psicologia das Cores, roxo, lilás, violeta podem trazer emoções distintas e ainda são subjetivas.

Em suma, por ser ambivalente, o violeta vincula a sensualidade à espiritualidade, sentimento e intelecto, amor e abstinência. No violeta todos os opostos se fundem, assim como essas sensações perpassam os demais tons de roxo. Na psicologia das cores, roxo, malva, violeta e lilás simbolizam a fantasia (da bruxa a fada), a busca anímica, a vontade de tornar possível o impossível.

A exemplo disso, na contemporaneidade, ser criativo é uma forma de se diferenciar dos demais. Muitos avaliam o violeta como excessivamente ousado. Essas características são relacionadas a artistas e pessoas que se destacam em seu meio. O violeta é inconformista, é original, e pessoas que tem ambição se identificam com o roxo. Não é à toa que o roxo é a cor escolhida por Lewis Hamilton, o piloto de Fórmula 1 com mais conquistas na história. Seu capacete – com design do brasileiro Raí Caldato - destaca o violeta, que na psicologia das cores, roxo, transmite a ideia de iconicidade.

Veja a seguir exemplos de possibilidades de aplicação da cor roxa em seus projetos de arquitetura, urbanismo, interiores e paisagismo, respeitando a relação das cores dos círculos cromáticos de pigmentação e de luz, seguindo a psicologia das cores.

Onde aplicar a cor roxa no projeto

Por ser uma cor guarda-chuva, o roxo pode ser aplicado em quaisquer projetos de forma diferentes. Trabalhando a partir da mistura do violeta com o preto e o branco é possível passar diferentes emoções e acertar naquelas adequadas ao projeto que se está desenvolvendo. Cada projeto apresenta seu conceito, que deve estar representado adequadamente no partido projetual e ao se tratar de ambientes residenciais, comerciais e institucionais – escolas podem utilizar da vibração do violeta para estimular a inteligência e criatividade.

Em ambientes internos, a cor roxa pode criar a profundidade necessária em corredores ou em quartos grandes cuja intenção projetual é de trabalhar o conceito de aconchego sobretudo em residências. Da mesma forma, na Psicologia das Cores, roxo é a cor utilizada para criar intensidade em ambientes por meio da aplicação de pontos de cor, como em quadros nas paredes e almofadas.

Diferentes tons de roxo e estampas em almofadas fazem a diferença no projeto – assim como apresentado na colagem digital abaixo - e de forma acessível.

É possível também utilizar o roxo em projetos urbanos e paisagísticos. Dentro das matrizes, o roxo é bem-vindo em manchas ou em corredores com a mesma vegetação, como de traboeraba-roxa ou “coração roxo”. Além das cores análogas, é também interessante que para a psicologia das cores, amarelo e roxo criam contraste. Abaixo, a associação de tradescantia-roxa com a grama amendoim, que tem flor amarela, apresentam harmonia justamente pelo sutil contraste entre as cores. O paisagista brasileiro Roberto Burle Marx empregava com maestria essas manchas, como no projeto paisagístico para a casa

Residência Edmundo Cavanellas, projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer e paisagístico de |Roberto Burle Marx. Fonte: José Tabacow.

Projetos de paisagismo podem integrar elementos arquitetônicos, por isso em ambientes externos é interessante trabalhar com diferentes matrizes, como aplicação de tintas com cores “chapadas”, ou corpos d’água, que as refletem e aproveitam os efeitos da incidência solar. Naturalmente, na psicologia das cores, roxo transita no espectro do visível e invisível e saber aplicar nos projetos é um grande trunfo, como na parede externa roxa abaixo, que delimita ambientes abertos e brinca com a luz.

Fonte: Natalie Christensen.

A seguir são apresentados exemplos de projetos com a cor roxa aplicada, a começar com esta última ideia apresentada: o uso de cores chapadas que cobrem inteiramente as superfícies.

Exemplos de projetos com a cor roxa

O arquiteto mexicano Luis Barragán tem como característica de suas obras o uso de luz natural e o emprego de cores sólidas, tanto em ambientes internos quanto externos. Na Cuadra San Cristóbal, projeto de 1968 na Cidade do México, escolheu tons de rosa para os muros do pátio e o roxo no portão. Assim, criou relevo visual por meio da escolha de cores análogas – na psicologia das cores, vermelho, rosa e roxo são cores quentes - mas demarcando com a cor mais escura o ponto de atenção: entrada e saída de veículos e animais, como os cavalos que vemos na imagem.

Fonte: Fundação Luis Barragan.

Já em ambientes internos, como apartamentos residenciais, o roxo é também bastante desejado, variando a tonalidade como é possível ver nos projetos seguintes.

De forma a destacar alguns pontos do ambiente, o roxo foi empregado enquanto tinta em uma das paredes da sala junto à cozinha e no tecido da poltrona, no projeto do Superlimão. A cor predominante do setor social do apartamento é o branco, o piso parquet (o famigerado “taquinho”) e os móveis apresentam cores quentes (na psicologia das cores, laranja, amarelo e vermelho) que se contrastam aos tons de tinta escolhidos para a pintura da parede ao fundo, na cor roxa, e da porta que aparece em primeiro plano, azul claro (na psicologia das cores, azul é a cor do espiritual, da reflexão e do silêncio), cor oposta ao laranja no círculo cromático e também na semântica e psicologia.

Fonte: Superlimão.

Já na área dedicada à leitura, as prateleiras tomam a parede inteira, e os livros são organizados de forma a misturas as cores de suas capas, criando um plano homogêneo que destaca a poltrona com o tecido violeta. Desta forma, a harmonia se dá para criar o ambiente aconchegante e silencioso, puxado para o azul, propício para o desenvolvimento de atividades de leitura. A iluminação também tem destaque, pois os holofotes podem se deslocar pelo trilho e mudar a direção de acordo com a necessidade de quem está utilizando o espaço. Desta forma, e como apresentado na psicologia das cores, tons de roxo são gerados a partir da diferença de iluminação que o tecido ou capas de livro recebem a incidência luminosa.

Fonte: Superlimão.

Outro ambiente bastante convidativo para tons de roxo são os quartos. Desde os quartos infantis, que ficam muito bem com paredes em lilás e pontos de cor complementares em contraste como o amarelo ou vermelho e análogas, como o azul, passando por quartos de adolescentes e até casais.

Adolescentes estão em um momento de autoconhecimento muito importante da vida. Por isso, faz sentido que o roxo seja uma cor utilizada para expressar, por reunir distintos sentimentos. Na Psicologia das cores, roxo é, mais uma vez, a cor da ambiguidade. Nessa fase ora desejam uma “decoração clean e comportada, outras vezes romântica, mas nunca ‘infantil’”, segundo a decoradora Rosana Silva. Ela sugere utilizar posters com frases, emoldurar fotos, e utilizar adesivos e papéis de parede nos planos verticais e utilizar almofadas e “puffs” para ampliar as áreas de apoio, pois recebem sempre as amizades, cuja cor na psicologia das cores é o amarelo, o ouro. Outra dica, para estimular o autoconhecimento e criatividade de adolescentes, é especificar objetos que possam ser customizados, para dar o toque pessoal e representativo. Neste projeto, o branco ao fundo, mesmo que com muitas cores, apresenta um ambiente  leve e os objetos demonstram a personalidade da “dona” do quarto. Ao passar os anos, é possível facilmente substituir os objetos.

Fonte: Simples Decoração.

Como visto, roxo é a cor da originalidade, então é muito bem-vinda em ambientes comerciais. Desde a identidade visual às edificações e ambientes. Roxo pode ser utilizado em fachadas, espaços de reunião passando por áreas de serviço, como a cozinha do escritório da Pitá Arquitetura, em São Paulo. O armário e a fruteira apresentam tons diferentes de roxo, e as pastilhas em tons cinzas, azuis e esverdeados (na psicologia das cores, verde é cor da vida e da saúde), junto a pedra do balcão criam um ambiente ao mesmo tempo vibrante, mas sem exageros. O tempo de permanência na cozinha de um escritório é reduzido, portanto a escolha dos tons de roxo para o ambiente condiz com o dito na psicologia das cores, roxo enquanto a cor da criatividade e inteligência – ao preparar um café é possível ter ainda mais estímulos.

Fonte: Pitá Arquitetura.

Para finalizar é destacado o projeto Soundwave, do escritório chinês Penda. O projeto emula a as montanhas da paisagem de Xiangyang fazendo, por meio de centenas de peças verticais em tons de roxo (aqui empregada, segundo a psicologia das cores, roxo para se tornar um marco visual), a transição da cidade para do maior parque do continente asiático. A forma, ao mesmo tempo que criativa e impactante, se integra à cultura chinesa pois promove sociabilidades por meio da dança e prática esportiva: cada peça tem iluminação de led e sistema de som integrado. Além disso, o metal apresenta variação nos tons de roxo de acordo com a iluminação natural e reflexos dos espelhos d’água. Este projeto sintetiza vários dos pontos apresentados ao longo deste artigo, sendo também sua capa, a força do roxo na psicologia das cores.

Soundwave, Penda arquitetos, Xiangyang, China. Fonte: ArchDaily.

Violeta e lilás, malva e púrpura, os tons de roxo são intrigantes e versáteis. Ao longo dos anos e culturas foram atribuídos a diferentes locais, grupos e ideais. Desde os mantos de bruxas, magos, fadas, e túnicas eclesiásticas, passando pelo fascínio durante o Art Nouveau a embrulhos de doces e chocolates (lembra da Milka, com sua icônica “vaca lilás”?), o roxo é utilizado com propósito – cabe identificar a necessidade da clientela para o melhor emprego da cor.

 

Até a próxima,

Equipe Vobi.

 

Referências:

ArchDaily (https://www.archdaily.com.br/br/771443/soundwave-penda)

Fundação Barragán (barragan-foundation.org)

HELLER, Eva. Psicologia das Cores. Olhares: São Paulo, 2021.

Museu de Artes Decorativas, tour virtual 360º. (https://madparis.fr/index.php?page=visite&salle=rubrique342)

(https://madparis.fr/index.php?page=visite&salle=rubrique342)

Simples Decoração.

Continuar lendo

Conteúdos VIP
Faça parte da lista de conteúdos VIP.
Receba semanalmente conteúdos selecionados pela a nossa equipe.
Sem spam!

Seu negócio de Arquitetura e Construção ainda não é digital?