Uma pessoa comum sabe que um arquiteto é o responsável pelo projeto de edifícios, casas, apartamentos, etc. No entanto, um dos fatores que comumente passa despercebido é a trajetória desde o esboço inicial ao produto final que, frequentemente, é muito mais complexa e envolve diversas outras etapas.
Para quem não é da área, ou mesmo para iniciantes da profissão, é natural ter uma visão limitada - e até mesmo glamourizada - em que um arquiteto apenas cria um conjunto de desenhos, fornece esses desenhos a um empreiteiro e o empreiteiro constrói o projeto. Infelizmente, essa não é a realidade.
Dentre as inúmeras etapas que envolvem um projeto de arquitetura e interiores, neste artigo, iremos nos aprofundar em uma das “menos divertidas”, porém mais importantes dentro de um escopo: o memorial descritivo.
Continue sua leitura e, ao final dela, você terá aprendido sobre:
Aproveite a leitura!
Em suma, um memorial descritivo faz parte dos documentos de um projeto que estabelece o escopo de trabalho para os contratados (seja cliente, fornecedor, mão-de-obra, entre outros). Trata-se de um documento escrito, ao invés de desenhado, que define as informações técnicas dos produtos e seus procedimentos de instalação.
Em termos mais simples, os desenhos atuam como uma representação gráfica da obra, enquanto o memorial descritivo é uma lista detalhada para ajudar a informar os clientes de todas as peças para concretizar sua visão. Ele deve incluir todas as informações sobre cada item, como o varejista, o nome do produto, as dimensões, custos, disponibilidade de estoque e assim por diante.
Todos esses detalhes auxiliam o cliente a tomar uma decisão se deve seguir em frente e comprar esses itens. Além disso, o documento também ajuda no orçamento e gerenciamento de projetos. É como um roteiro para entregar o design geral.
Juntamente com outros documentos e ferramentas importantes, como imagens renderizadas em 3D, moodboards e plantas baixas, o memorial descritivo é um documento-chave de design e, por isso, deve ser levado em conta o tempo que se leva para pesquisar, verificar e documentar cada elemento do escopo. Lembre-se que os clientes não estão pagando apenas pelas grandes ideias, mas pelas habilidades para implementá-las em um espaço.
Você deve ter notado que logo no começo mencionamos o fato do memorial descritivo ser uma etapa “menos divertida”. Parece haver um equívoco comum entre os arquitetos e designers mais jovens e emergentes de que o memorial descritivo é, de alguma forma, menos importante do que os desenhos e o processo criativo.
Essa percepção provavelmente tem a ver com dois fatores principais: (1) A maioria das universidades não ensina seus alunos a elaborarem um memorial descritivo e (2) Memoriais descritivos são complicados e não tão "divertidos" para a maioria dos criativos.
O fato é que saber a especificação do produto a ser utilizado é tão importante quanto o desenho que você usa para articular a intenção do projeto. Olhando sob uma perspectiva diferente:
Digamos que você esteja trabalhando em um projeto de restaurante e precise projetar uma série de portas duplas que permitam que as áreas de estar se estendam para os espaços externos. É provável que seu primeiro movimento seja o esboço de uma elevação de como será a aparência geral do edifício, onde as portas ficarão.
Mas agora que você tem os esboços, que tipo de porta está usando?
Claro, presumimos uma porta dupla, mas de qual fabricante? Que tipo de material será? Em quais tamanhos ela vem? Existem requisitos especiais de energia? Requer suporte estrutural adicional? Ela tem algum requisito especial de travamento? E assim por diante...
Dependendo de quais forem algumas de suas respostas, você pode descobrir que o design original que pretendia fazer irá resultar em algo muito diferente. Na verdade, ele pode se desviar tanto que, no final, você talvez precisará encontrar um outro tipo de produto.
Tudo bem, memoriais descritivos são importantes, mas por onde começar a estruturá-los?
Fundamentalmente, um memorial descritivo é feito de três "partes" distintas, mas igualmente importantes. Cada parte lida com um aspecto diferente do produto que está sendo especificado.
A primeira parte é chamada de Geral. Esta é a seção onde você define os procedimentos administrativos e lista todas as especificações relacionadas que lidam com o produto que você está especificando. Pense nisso como uma introdução.
A segunda parte é chamada de Produtos. Esta é a seção onde você define a qualidade e os componentes necessários. Pense nisso como as informações técnicas do próprio produto.
A terceira parte é chamada de Execução. Esta é a seção onde você define os requisitos de preparação e instalação para o produto. Pense nisso como o manual de instruções de como o produto deve ser instalado.
Quando se trata de realmente escrever um memorial descritivo, é possível seguir 7 passos simples. Vale ressaltar que algumas etapas são mais fáceis do que outras. Mas nenhuma das etapas é particularmente difícil por si só. Elas exigem apenas que você esteja engajado na tarefa em questão.
Etapa 1: Definir claramente a intenção do escopo com o proprietário;
Etapa 2: Avaliar quais produtos podem ser necessários em um trabalho;
Etapa 3: Encontrar produtos de 'base de projeto' preliminares e revisar com o proprietário para aprovação com base no desempenho e custo;
Etapa 4: Encontrar mais duas opções de produtos competitivos;
Etapa 5: Escrever a parte 1 - determinar qual garantia de qualidade, apresentação, requisitos de garantia, o produto possui;
Etapa 6: Escrever a parte 2 - determinar os requisitos de desempenho de produtos e acessórios;
Etapa 7: Escrever a parte 3 - determinar os requisitos de execução com base no que você especificou nas partes 1 e 2.
Existem diversos tipos diferentes de memoriais descritivos que você pode encontrar. Mas, em termos práticos e considerando o âmbito de arquitetura e interiores, podemos afunilar as opções em três principais: memorial descritivo de arquitetura, memorial descritivo de obra, memorial descritivo de reforma.
O memorial descritivo de arquitetura é um componente do projeto executivo que visa trazer dados minuciosos que auxiliam a execução de todo o projeto idealizado pelo arquiteto. Além de servir como um comprovante legal de tudo o que foi prometido ao cliente.
“É nele que vão estar especificadas atividades que não podem ser descritas por meio do desenho técnico, por exemplo: de que forma as paredes devem ser pintadas, os cuidados para evitar danos nos acabamentos, a ordem das atividades no local, entre outras.”
O memorial descritivo de obra fornece detalhes e instruções sobre os tipos de materiais a serem usados e os métodos de instalação desejados. No entanto, esse tipo de especificação pode ser dividido em três subcategorias:
Semelhante ao memorial descritivo de obra, o memorial descritivo de reforma segue as mesmas diretrizes, adicionando algumas especificações necessárias a esse tipo de projeto como:
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Especificações incorretas podem levar à perda de tempo e aumentar a confusão, ao mesmo tempo em que prejudicam a visão de projeto do arquiteto ao empreiteiro, do fabricante ao proprietário do prédio, e todos os demais.
Um bom memorial descritivo fornece dados pertinentes sobre construção e materiais e tornam a vida mais fácil para todas as partes envolvidas, fornecendo informações claras e concisas sobre os atributos do produto, desempenho e muito mais.
Então, o que exatamente torna uma memorial descritivo “bom” e como ele pode melhorar o fluxo de trabalho do design à construção?
Isso pode parecer óbvio. Afinal, em sua essência, trata-se de uma etapa de especificação. Mas nem todas as especificações explicam o material. Vamos comparar duas situações de da vida real:
Considere a especificação de proteção de canto. As proteções de canto são feitas em uma variedade de materiais diferentes: PVC, plástico sem PVC, acrílico, policarbonato, aço inoxidável, alumínio ou latão, todos com diferentes custos de origem e instalação.
Situação 1: Imagine que você é um empreiteiro lendo o memorial descritivo sem indicação do material escolhido para a proteção de canto. Você provavelmente precisará enviar uma solicitação de informação para obter esclarecimentos do arquiteto responsável neste caso.
Situação 2: Nesta especificação, o material está claramente listado e é específico: aço inoxidável, tipo 304. Sem suposições e sem necessidade de solicitação de informação. Isso economiza tempo e garante que o empreiteiro compre e instale o produto exato que você solicitou.
Se um elemento do seu projeto é baseado em um produto específico, é uma boa prática nomeá-lo. Mas ainda é importante explicitar as características do produto para garantir que a intenção do projeto seja realizada.
Isso não apenas ajudará o contratante a tomar as decisões de compra de forma assertiva, mas também o ajudará a fazer as substituições corretas, caso seja necessário. Por isso, as informações devem ter precisão e não permitir margens para a imaginação, podendo levar o empreiteiro a tomar decisões de projeto que deveriam ser feitas pelo arquiteto.
Lembre-se: as pessoas não possuem uma bola de cristal.
O trabalho de um empreiteiro é dar vida ao seu projeto. Documentos de especificações de construção são cruciais para garantir que o que você deseja possa ser facilmente compreendido e executado, sem atrasos no projeto devido a falhas de comunicação.
Escrever um memorial descritivo não é difícil, mas é fácil cair em armadilhas. As demandas das empresas de design estão em constante mudança e encontrar tempo para pesquisar novos produtos e escrever especificações completas pode parecer um ato de malabarismo.
Um conjunto completo de especificações pode ajudar todos no projeto a reduzir custos, perda de tempo e disputas. Quanto mais informações forem fornecidas, maiores serão as chances de o trabalho ser executado corretamente. Como resultado, o trabalho correto significa menos defeitos, o que significa menos pedidos de alteração, o que significa menos disputas sobre compensação adicional.
Por último, um bom memorial descritivo pode ser a chave para desbloquear seu potencial como designer e como arquiteto completo. Assim, embora a arquitetura e design de interiores dependa da criatividade para oferecer aos clientes um fator visual e estético, existem ferramentas práticas, como esta dissertada neste artigo, que ajudam a fornecer resultados surpreendentes.